Flamengo x Atlético-MG: relembre o confronto pelo Brasileirão de 1980

Atualizado: 22/10/2024, 07:36
Nunes comemorando o gol da vitória do Flamengo contra o Atlético-MG, na final do Brasileirão de 1980.

Flamengo e Atlético-MG formam uma das maiores rivalidades interestaduais do Brasil. As equipes se enfrentarão mais uma vez em um confronto decisivo, desta vez na final da Copa do Brasil. O Mundo Bola irá relembrar em uma série de reportagens os duelos marcantes entre as equipes. A primeira delas é sobre a decisão do Brasileirão de 1980.

O Flamengo fez a melhor campanha na competição, por isso chegou à final precisando de dois empates ou uma vitória e uma derrota, desde que a diferença de gols fosse a mesma. O Rubro-Negro também jogaria a segunda partida no Maracanã.

Os 40 anos do título brasileiro de 1980, parte 3: para a eternidade

No primeiro jogo, no Mineirão, Zico foi desfalque para o Mais Querido, por conta de lesão muscular sofrida na semifinal, contra o Coritiba. Reinaldo aproveitou falha de Júnior para chutar forte de esquerda e fazer o gol do jogo, obrigando o Flamengo a vencer a segunda partida para ser campeão.

O lance que marcou a partida, para o Flamengo, foi a grave contusão de Rondinelli. O Deus da Raça levou um empurrão, soco ou cotovelada de Palhinha (existem diversas versões sobre o acontecido), batendo com a cabeça na trave. O defensor fraturou o maxilar e deixou o jogo com suspeita de concussão.

Flamengo 3×2 Atlético-MG: o início da Era Dourada

Precisando vencer a partida para conquistar o Brasileirão pela primeira vez, o Flamengo contou com 154.355 pagantes (o então maior público da história do Brasileirão, até ser superado em 1983) para apoiar rumo ao inédito título. Manguito foi escalado para substituir Rondinelli. O Rubro-Negro estava mordido pela derrota e pelo que aconteceu com o defensor.

Logo aos sete minutos, o Mengão abriu o placar. O zagueiro Osmar, do Atlético, tentou sair jogando, mas acabou esticando demais. Andrade roubou e acionou Zico. O Camisa 10 da Gávea deu passe magistral para Nunes, que tocou na saída do goleiro João Leite, abrindo o placar. O time mineiro respondeu rápido, com Reinaldo fazendo o empate quase da linha de fundo. A bola desviou em Marinho e tirou o goleiro Raul do lance: 1 a 1.

A partida seguia equilibrada, com Zico sendo duramente marcado. Além da marcação implacável, muitas vezes desleal, como o lance em que Chicão quase quebrou a perna do Galinho, o alvinegro fazia bastante cera com o seu goleiro.

O Mengão tinha mais volume na partida, com o Atlético-MG aproveitando espaços e dando escapadas perigosas. Aos 41 da primeira etapa, Toninho levantou para a área, mas a defesa do Atlético despachou. No rebote, Júnior chutou, foi bloqueado, fez novo arremate e a bola encontrou Zico, dentro da área, marcado por três defensores. Quase caindo, o ídolo mandou para as redes, deixando o Maracanã em estado de êxtase.

Confusão e drama

A segunda etapa se manteve no mesmo ritmo do primeiro tempo, com muitas disputas físicas e gols. Aos 16 minutos, o Atlético-MG empatou com Reinaldo, que recebeu nas costas da zaga para finalizar de primeira. Raul tocou na bola, mas ela acabou entrando, trazendo tensão novamente para o Maracanã.

Reinaldo ficou revoltado após a marcação equivocada de impedimento, gerando uma enorme confusão. Apesar de ter condições no lance, o Camisa 9 do Atlético-MG se colocou na frente da bola, impedindo a reposição do Flamengo, depois chutando para atrapalhar ainda mais. O árbitro José de Aragão expulsou o atacante, o que desencadeou num caos em campo.

O técnico do time mineiro, Procópio Cardoso, junto com os atletas que estavam no banco, invadiram o gramado, paralisando a partida. Com isso, o treinador também foi expulso. Na crônica da partida, publicada pela revista Placar, estava o seguinte relato: “Reinaldo cai em campo – sente o músculo, faz cera, xinga a mãe do juiz. José de Assis Aragão revida: ‘Quebro a cara desse moleque. Tá expulso!’”. Toda a confusão esfriou o jogo, beneficiando o Atlético-MG, que estava conquistando o título com o resultado.

O artilheiro das decisões apareceu

Restando pouco menos de 10 minutos para acabar o tempo regulamentar, começava a consagração do “Artilheiro das decisões”. Nunes recebeu de Andrade, tentou cruzar, a bola bateu na defesa e voltou. O Camisa 9 fez linda jogada individual, driblando Silvestre e arrancando em direção à linha de fundo. João Leite tentou fechar o canto, mas o atacante chutou forte e colocou o Rubro-Negro em vantagem novamente.

Nos minutos finais, Chicão deu um pontapé em Tita, que fazia embaixadinhas buscando gastar o tempo. O jogador do Atlético-MG foi expulso direto. Em seguida, Palhinha bateu boca com o juiz, também recebendo o vermelho.

Mesmo com três a mais, o Flamengo sofreu um susto: o time trocava passes para trás, mas Pedrinho chegou de surpresa, roubando a bola e passando por Raul. Com o gol aberto, o jogador do Atlético-MG estava em ótimas condições para estragar a festa rubro-negra. Mas Andrade, com muita raça, chegou no exato momento do chute para bloquear.

Foi o último ato do grande duelo entre Flamengo e Atlético-MG, que garantiu a alegria da Nação, vendo o Mais Querido ser Campeão Brasileiro pela primeira vez. O gramado foi rapidamente invadido, com muitos atravessando ajoelhados, agradecendo e pagando promessas.


28/05/1980 – Atlético Mineiro 1 x 0 Flamengo
Local:
Mineirão, Belo Horizonte
Gol: Reinaldo (9’2T)
Flamengo: Raul, Carlos Alberto, Marinho, Rondinelli (Nélson) e Júnior; Andrade, Carpegiani e Tita; Reinaldo, Nunes (Anselmo) e Carlos Henrique.
Téc: Cláudio Coutinho
Atlético: João Leite, Orlando (Marcos Vinícius), Osmar, Luizinho e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho Gaúcho, Reinaldo e Éder.
Téc: Procópio Cardoso

01/06/1980 – Flamengo 3 x 2 Atlético Mineiro
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (Público: 154.355 pagantes)
Gols: Nunes (7’1T), Reinaldo (8’1T), Zico (44’1T), Reinaldo (21’2T) e Nunes (37’2T)
Flamengo: Raul, Toninho, Marinho, Manguito e Júnior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César (Carlos Alberto).
Téc: Cláudio Coutinho
Atlético: João Leite, Orlando (Silvestre), Osmar, Luizinho (Geraldo) e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho Gaúcho, Reinaldo e Éder.
Téc: Procópio Cardoso


James Brito
Autor
26 anos, natural de Vitória da Conquista (BA), jornalista em formação pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Curioso por natureza, busca no esporte um campo infinito para observar, aprender e comunicar.