Flamengo acerta ao impor limites na renovação de Filipe Luís


Exigir que Filipe Luís seja pago como técnico pronto ignora estágio de carreira, distorce o debate e cria um risco desnecessário para o Flamengo.
O ano vai chegando ao fim e aquilo que antes parecia uma possibilidade remota se torna cada vez mais real: a não renovação de Filipe Luís com o Flamengo. A poucos dias do fim do contrato, a imprensa noticia divergências importantes entre clube e treinador, especialmente em relação aos termos do novo vínculo.
Do mesmo autor: Desinvestimento do Flamengo no Futebol Feminino: pensando fora de redes sociais
Como quase sempre acontece no futebol, o debate rapidamente se transforma em torcida organizada nas redes sociais. De um lado, quem defende Filipe incondicionalmente. Do outro, quem apoia qualquer decisão do Flamengo.

Autorizado pela Portaria SPA/MF Nº 250, de 07/02/2025 | +18 | Publicidade | T&C Aplicam-se | Jogue com Responsabilidade.
Mas, quando o assunto é uma negociação que envolve salário, projeto e o futuro de uma carreira, a análise precisa ir além da paixão. E, olhando com racionalidade, minha conclusão é simples: Filipe tem razão em fazer exigências. O Flamengo tem razão em recusá-las.
Flamengo não “economizou” com Filipe Luís em 2025
Filipe foi contratado como técnico ainda na gestão Landim em um contexto que não pode ser ignorado: tratava-se de uma aposta altíssima. Ele chegava ao profissional sem nenhuma experiência prévia, amparado basicamente por sua história no clube, pela identificação com a torcida e no pouco tempo de trabalho com os Garotos do Ninho.
Nessas condições, era absolutamente natural que o salário fosse baixo. Talvez não o menor da Série A, como chegou a ser divulgado, mas certamente distante dos valores pagos a técnicos consolidados. Afinal, o Flamengo estava promovendo um treinador do sub-20 para comandar um elenco milionário.
Além disso, Filipe recebeu propostas de renovação meses atrás e optou por não avançar nas conversas naquele momento. Por isso, não faz sentido o discurso de que o clube “economizou” em 2025. O Flamengo pagou a ele exatamente o que se paga a um treinador no estágio em que ele estava.
Comparações salariais não se sustentam
Muito se falou sobre uma possível comparação entre o salário pedido por Filipe Luís e o que ganha Abel Ferreira no Palmeiras. Essa referência não se sustenta.
Abel está no Palmeiras desde 2020 e construiu seu atual patamar salarial ao longo de cinco anos. Foram títulos, estabilidade, continuidade de projeto, poder de decisão no futebol e até momentos de tensão, como a quase saída para o futebol árabe. Mesmo assim, ainda há debates sobre o valor que ele recebe.
➕ João Guilherme admite preocupação com renovação de Filipe Luís
Colocar Filipe, com pouco mais de um ano de trabalho, nesse mesmo nível salarial levanta uma pergunta óbvia: quanto ele deverá ganhar se completar cinco temporadas no Flamengo? E mais: se o desempenho cair, como quase aconteceu em uma Libertadores que por pouco não terminou de forma precoce, o salário será revisto?
Salário não pode ser definido apenas pela última entrega. Caso contrário, cada oscilação vira uma crise contratual. O valor de Filipe precisa reconhecer o excelente trabalho recente, mas também ser sustentável caso o próximo ano não venha com a mesma quantidade de títulos.
O problema da inflação salarial no elenco
A comparação com salários de jogadores do elenco toca em um ponto sensível: a inflação salarial no Flamengo. Esse problema, herdado de gestões anteriores, já causou ruídos em diversas renovações, com atletas pouco decisivos usando contratos inflados como referência.
Esse cenário precisava ser corrigido. E tudo indica que a atual diretoria está disposta a fazer isso, inclusive deixando claro que contratos fora da realidade não serão renovados. Aceitar esse parâmetro na negociação com o treinador seria ir na contramão do próprio discurso.

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Não há contradição em buscar outro técnico
Existe um argumento recorrente de que, se Filipe Luís não renovar, o Flamengo acabará pagando caro por outro treinador - provavelmente estrangeiro - e que isso exporia uma incoerência da diretoria. Esse raciocínio é raso. Valor pago não existe isolado de expectativa e cobrança.
Se o Flamengo decidir investir alto em um técnico mais experiente, estará pagando por alguém supostamente pronto, com histórico comprovado, currículo consolidado e que deverá entregar resultados imediatos.
Já Filipe, por mais competente que seja, ainda é um treinador em formação, tratado pelo próprio clube como projeto. Pagar a ele como se fosse um técnico pronto não é valorização, é erro de gestão. São patamares diferentes, custos diferentes e riscos diferentes.
Renovação de Filipe Luís: minha conclusão
A melhor solução para o Flamengo é, sim, manter Filipe Luís. Continuidade com alguém que já acumulou créditos e ainda tem margem clara de crescimento costuma ser um caminho inteligente.
Mas essa renovação precisa acontecer com sensatez. Sem desespero. Sem transformar o clube em refém. E sem ignorar o contexto de médio e longo prazo.
Que o acordo saia e que 2026 seja ainda melhor. Mas, se não sair, fica o reconhecimento: obrigado por tudo, Filipe. Boa sorte na carreira, sem ressentimentos.
Renato Veltri é advogado, colunista do MundoBola e torcedor crítico do Flamengo. Siga-o no Twitter (X).

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