Da luta à medalha: atletas do Flamengo compartilham trajetórias inspiradoras

Em ação pelo Dia da Consciência Negra, o Flamengo reuniu na última terça-feira (18), no Muhcab, alguns de seus atletas olímpicos no seminário sobre a valorização da cultura negra no esporte. No encontro, Lorrane Oliveira, Gui Deodato e Gigi Santos citaram vivências da infância e os desafios que enfrentaram no esporte, ressaltando a importância de ambientes seguros e acolhedores.
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O painel reforçou como a representatividade dentro do Flamengo pode inspirar crianças e adolescentes. Os relatos dos atletas mostram que a presença de referências negras e a criação de espaços acolhedores são fundamentais para o desenvolvimento esportivo e pessoal.

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Lorrane Oliveira destaca ambiente seguro no Flamengo

A ginasta Lorrane Oliveira contou que seu desenvolvimento no Flamengo ocorreu em um espaço de proteção e incentivo. Segundo ela, esse ambiente foi decisivo para que pudesse enfrentar os desafios de uma carreira de alta performance sem carregar o peso do racismo.
“Eu cresci em um ambiente totalmente seguro. Nunca sofri nenhum tipo de racismo. Sempre tive muito apoio dos meus treinadores e da minha família. O esporte salva de várias maneiras, inclusive sobre o racismo.”
Lorrane lembrou que, quando criança, se inspirava em atletas que via na televisão. Hoje, entende que ocupa justamente esse lugar.
“Eu me apaixonei pela ginástica vendo as competições na TV. Eu pensava: se ela conseguiu, eu também consigo. É isso que eu desejo para outras crianças. Que se espelhem em nós e nunca deixem de acreditar nos sonhos.”
A atleta ainda falou sobre como uma frase colada na parede do quarto virou combustível antes de sua primeira medalha histórica.
“Eu estava passando por uma fase difícil. Colei uma frase para ler todos os dias e me motivar. No fim do ano veio a medalha mundial. Hoje tenho essa frase tatuada: nada entre o nosso quanto os nossos sonhos.”
Gigi relata bullying, solidão e reencontro com a identidade

A judoca Giovanna Santos, conhecida como Gigi, compartilhou os obstáculos que enfrentou na infância ao ser a única menina negra no tatame. Ela também falou sobre a pressão estética e os ataques que sofria na escola, que a faziam se sentir isolada e diferente.
“No judô, eu era a única diferente. Nunca via alguém parecido comigo. Na escola, sofria de várias maneiras. Era por eu ser gordinha, pelo meu cabelo. Eu vivi a maior parte da minha vida alisando o cabelo. Minha raiz crescia e tudo virava motivo de piada”, relatou.
Ela contou que chegou a abandonar o esporte aos 12 anos, acreditando que se afastasse, as provocações cessariam. A volta aconteceu com o incentivo de seu sensei, que percebeu seu potencial e acolheu a atleta.
Gigi também destaca a importância de referências negras no esporte e como isso influencia sua motivação diária. Para a judoca, poder ser exemplo para outras meninas negras é uma forma de inspirar e fortalecer a autoestima das futuras atletas.
“Quero que as pessoas olhem para mim e digam ‘sou exatamente como ela’. As mulheres têm muita dificuldade, e quando a gente vê alguém como a gente, a gente se sente mais capaz. É uma honra conquistar títulos que eu vi outras mulheres negras conquistando”, completou.
Gui Deodato fala sobre desigualdade e acesso ao esporte
O ala Gui Deodato reforçou a desigualdade estrutural que define quem consegue entrar e permanecer no esporte. Ele contou que, quando começou a jogar basquete, poucos tinham acesso e que ele e mais alguns colegas da periferia enfrentavam obstáculos diários.
O atleta rubro-negro descreveu situações que só entendeu plenamente anos depois, como diferenças de transporte e de materiais, que mostravam realidades sociais muito distintas. Essas experiências marcaram sua percepção sobre desigualdade e inclusão no esporte.
“A gente chegava e ia embora de ônibus. Os outros iam de motorista. Era um choque ver essas realidades tão diferentes. Eu com o mesmo tênis o ano inteiro e vendo os meninos trocarem a cada mês”, explicou.
Gui Deodato disse que não reconhecia aquilo como racismo na época, mas hoje entende o quanto era segregador. Ele reforçou que mesmo convivendo com essas diferenças, teve uma base familiar e de apoio que o ajudou a atravessar inseguranças silenciosas.
“A gente se dava bem com todo mundo, mas na hora do aniversário, da festinha, a gente não era convidado. Isso dói quando você cresce e entende que estava sendo colocado em outra caixinha. Talvez eu mudasse algum aspecto da confiança de um adolescente negro. Mas tive uma base muito forte. Isso me salvou e fez eu não sentir tanto naquele momento”, concluiu.
O evento realizado pelo Flamengo reuniu atletas, clubes e instituições para debater a valorização da cultura negra no esporte e as formas de combater o racismo. Parte das muitas ações do clube para o Dia da Consiência Negra.

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